O conselho da maioria dos que alguma vez foram ditos por alguém que não sabia por onde começar é quase invariavelmente: começa pelo princípio.

Ok, desde já queremos estabelecer que o "SE" é aquele jogador que nunca entra em campo, mas sabe como marcar todos os golos e sempre teria feito melhor! Mas se tivéssemos escutado os conselhos que nos foram oferecidos, provavelmente teríamos errado muito muito menos, mas, ainda assim teríamos errado! É por aí onde queremos começar. Há poucas certezas na vida, que todos vamos fisicamente morrer, que impostos serão cobrados (pode não ser hoje, nem amanhã mas serão) e que depois de um dia, vem outro.

O resto é um conjunto de incertezas que todos preferimos acreditar que são verdades inabaláveis que por agora chamaremos de Fé-ê (fonte de extrema estupidez).

É com essa Fé-ê que nós começamos, com a crença de que basta fazer um plano e “tawas”, ele torna-se realidade, basta um vídeo para tornamo-nos num daqueles indivíduos com aqueles titulos difíceis que ninguém sabe dizer o que significam (renomado reestruturado não desconfiado consultor), muito menos como se obtém. Queremos lamentar profundamente a desilusão que iremos trazer para alguns, não há cocaína na coca cola, “…pausa dramática…”, também não se nasce e nem se fica expert na base de 10 minutos de vídeo ou 3 minutos de leitura. Lamentamos! Como se fica? Bom, há muitos caminhos que vão dar a Moçambique, assim como há muitos caminhos para se tornar um expert: anos de estudo, anos de trabalho, estar sobre a mentoria de alguém experiente e erros, muitos e muitos erros. Esse é o ponto que gostariamos de passar aqui, independemente do que aspirem a fazer na vida, não tem como, em algum momento vão errar, "é que não há maneira".

Mas os erros podem ser nossos aliados, por mais irritantes, onerosos ou embaraçosos que sejam.

Eles constituem um medidor no processo de crescimento. Quando erramos com um cliente e reconhecemos internamente que o fizemos, podemos tirar um tempo para perceber: onde estava o erro? Porquê isso aconteceu? como vamos fazer para que nunca mais aconteça?

Acima de tudo colocar os sinais que nos permitam futuramente identificar que o erro tem potencial de voltar a acontecer.

Como forma de despir a capa de professores, aqui está a nossa lista “best of” de erros cometidos nestes anos.

1. Fazer tudo!

Mama ine pano... Quando começamos, decidimos ser uma empresa que haveria de ter um projecto, mas como nós éramos a "fábrica de ideias" aumentámos para 2, depois 8, e de seguida 97237437 ideias diferentes.

Resultado: não tínhamos foco, “bem bem” ninguém sabia o que era suposto fazer, não estávamos a perceber fundamentalmente o que estava errado e porque ainda não tínhamos sucesso, uma vez que nossas massas cinzentas geniais, estavam totalmente a produzir ideias novas como estaríamos a respirar depois de tentar subir as escadas imaginando ter 1% do talento da Lurdes Mutola. A falta de foco é o que mata muitas das empresas que começam, ser muito muito bom em 1 coisa pode ser essencial para sobreviver e quem sabe dominar o mercado.

2. Ideia = dinheiro

Nê!?? “Cogito, ergo sum” Essa parte é dedicada a 1ª e única aula de filosofia que participei, espero ter feito a “stora” orgulhosa.

O dono, Descartes fala de muitas coisas, mas nenhuma delas é: penso, logo tá entrar dinheiro no bolso.

Ideias precisam ser executadas, validadas, ideias são potências de mudança que se não forem transformadas serão exactamente isso: ideias só.

Mas ideias que passaram pelo processo e foram executadas podem ter um caráter transformador. Pode ser um daqueles romantismos filosóficos, mas nós acreditamos no poder revolucionário da execução de uma grande ideia! Então se puderem aprender o óbvio connosco não tenham ideias e parem por aí, executem, testem, dêem vida àquilo que vosso cérebro concebeu. É dos sentimentos mais fantásticos que existe.

3. Ter pé de bebe, não saber andar e pôr sapatos de papá para correr

Eixx... Daquelas coisas que por mais vezes que tentemos pensar, nunca conseguimos compreender como podemos cometer o mesmo erro vezes e vezes sem conta. No nosso caso, foram tantos que mesmo “tinta” do teclado haveria de acabar a tentar explicar.

  • Ter um escritório antes de definir o produto ou serviço que haveríamos de produzir, tudo por causa de ego, porque empresa que é empresa tem escritório. Sabem o quê kriaactivos?! Empresa que é empresa também tem processos, fonte de renda para sustentar um escritório e uma visão clara do que exactamente faz. Resultado: dívidas por viver onde não se pode, sem as condições que se quer.
  • Contratar cedo demais... este erro por si só merece 100 páginas, sabemos que já fizemos antes, mas nunca é demais pedir desculpas a todos aqueles que afectamos por esta decisão tomada com a Fé-ê a funcionar a todo vapor. Contratar tem a ver com a vida das pessoas que esperam aprender, RECEBER uma remuneração justa, crescer num ambiente onde possam tornar-se brilhantes profissionais. Porque a casa estava um total caos e a pegar fogo, nenhum colaborador, por melhor que fosse conseguiria ajudar. Saíram frustrados, no nosso caso com meses e meses de prometido salário atrasado e por vezes com a confiança danificada porque alguns não creem serem bons suficientes para trabalhar num local que não seja a república das papaias moles e full de caroços. Metemos toda água que existe e um pouco mais.
  • 4. Não se profissionalizar

    Regra geral: profissionais, gostam de trabalhar com outros profissionais. Alguns não o fazem pelo preço e outras nuances. Queremos abrir um ponto de ordem para dizer que como moçambicanos merecemos umas gotwanas, ninguém vai a um super mercado, leva pão e pede desconto, mas quando estamos entre nós, tudo é desconto, podes até ter deixado o freak sem nenhuma margem de lucro, só queremos depenar mais e mais dinheiro dos pequeninos, sair aos sorrisos e pagar aos graúdos com os trocos. Devíamos todos reflectir e fazer melhor. Enfim. Perdão por esse momento.

    Dizíamos… profissionalizar-se é extremamente importante, significa que existe uma previsão para as coisas acontecerem e não quando o sol e a lua e aquele cometa (que ninguém conhece) estiverem ali (onde ninguém sabe).

    Isso inclui trabalhar com outros profissionais. Cometemos o tenebroso erro de pensar: desde a escola trabalhamos com excel então não precisamos de um contabilista, resultado: multas no INSS, Finanças e onde mais for possível nos multarem, contas feitas "a maneira phelasse", não ter um exacto controle sobre o que entra e sai, não consultar com advogados para produzir documentos legais que depois viram tiros no próprio pé, participar de parcerias sinistras sem objecto claro, etc, etc, etc.

    Hoje é nossa crença que os profissionais são aqueles dotados de mais do que simplesmente conhecimento técnico-científico que fazem o seu trabalho no melhor das suas habilidades, não importa se há frio ou calor, se prometeram eles cumprem, e se é algo que não dominam eles dizem abertamente e ajudam a tercerizar.

    5. Último mas não menos podre: aprender a identificar sucesso!

    Acreditamos que ouviram várias vezes: nem sempre ganhar significa ter sucesso! Não querendo ser essas pessoas, mas já sendo, é só perguntar aos casais! Ganhar a discussão não significa sucesso na relação. No negócio é parecido.

    As vezes é preciso perder em ordem de ganhar, pode parecer paradoxal mas é o caso. Nós não definimos o que era sucesso e só olhamos ter dinheiro com vitória, e foi um erro crasso e de iniciante.

    Na nossa experiência, 90% das decisões que tomamos em que colocamos o dinheiro como único alvo, acabaram em m**da total. Por ver o valor não tínhamos em consideração a total dimensão trabalho, não percebemos que o cliente só estava a tentar levar vantagem, entre várias questões.

    Há tantos e mais complexos erros que cometemos mas quisemos deixar os nossos principais hitts, para assegurar e clarificar que nenhum desses erros nos parou, fez nossa vida extremamente mais difícil? Full! Mas não nos parou e nem deve vos parar.

    Sobrevivemos a 2 falências, dívidas sinistras, perda de colaboradores, péssimos clientes, e a uma pandemia. Ainda estamos a aprender, com dores e com muita diversão. E vocês deviam também.

    Este é um ode a todos que fazem acontecer com honestidade, que como disse Duas Caras "sem espaço na mídia brilham nos palcos do anonimato". Aos empreendedores moçambicanos!

    Até a próxima leitura…